24.4.11

Miami

(foto de Olivier De Rycke)


Tinha chegado na véspera e era o seu primeiro pôr-do-sol em Miami. Espraiava desejos e pensamentos na areia ainda quente da praia, e o mar, num azul adormecido, embalava-lhe os pensamentos num balanço de vida que habitualmente fazia quando a primavera chegava. Lembrava com um sorriso todas as vontades que teclava em conversas tórridas sem voz que a deixavam exausta e escorrendo tentações. Estava em Miami, com tempo para si, para escrever, para ler, para imaginar e deixar-se encarnar nas personagens das histórias que tanto gostava de sonhar. Estava em Miami livre de compromissos e liberta de preconceitos. Pronta a experimentar sabores de pele, beijos, mãos e um corpo belo como o seu. Sentada na areia ainda quente, contemplava o mar e distraidamente tocava-se sentindo a lisura da pele em torno dos lábios que ele tanto imaginava. Já os tentara descrever, colocando-se em frente do espelho do quarto, observando-os, deixando os seus dedos passearem-se libertos até à tentação final de um orgasmo. Depois dizia-lhe, ou melhor, escrevia-lhe e deixava-o copiando prazeres do outro lado do mar. Vou para Miami, disse à esteticista, para justificar o pedido. Queria o seu sexo mais belo do que nunca: com a pele que provocasse desejo, com a textura própria para beijos e a superfície preparada para deslizamentos de língua molhada. Na história teclada, estava disposta a se deixar levar pelos sabores de pele, pelos beijos, pelas mãos, por um corpo feminino e belo como o seu. Sentada na areia ainda quente, os dedos passeavam-se como se o mar fosse o espelho do seu quarto e os seios libertavam-se aos poucos de um biquíni propositadamente pequeno. Estava em Miami, era o seu primeiro pôr-do-sol, e já não eram só os seus dedos que se perdiam entre as coxas. Beijos quentes foram-lhe pousando no pescoço e mãos esguias, bem cuidadas, brincavam carinhosamente com os seus mamilos. Reparou nas unhas, vermelho sangue e sentiu um perfume de jasmim no ar de maresia. Fechou os olhos e deixou-se perder, saboreando cada segundo de prazer. Sentiu outros seios deslizando-lhe na pele. Adivinhou uma língua a percorrer-lhe todo o corpo. Sentiu um sexo, como o dela, liso, com pele que deu vontade de beijar. Retribui, imitou, fez gozar, gozou. Estava em Miami e foi o seu primeiro pôr-do-sol.

9.4.11

espreitares


As ausências deixam-me em espreitares do teu corpo imaginando-o livre e despido perfumando tua casa. Às vezes espreito-o sobre lençóis da tua cama, extenuado dos teus dedos, repousando dos prazeres que ainda vejo escorridos na alvura da tua pele. Num espreitar de dedos, vou a tempo de sentir os teus lábios quentes, contorno-os como se os desenhasse mais uma vez, aprendendo cada doçura que eles encerram. Apetece-me beijar-te, beijando-os, e deixar-me adormecer junto a eles, cansado dos beijos que solto e que voam bebericados entre as tuas pernas, pousando debilitados nas tuas coxas lindas. Dormindo (ou disfarçando) sorris com cócegas ou com os pedacinhos de prazeres que sentes borboletando no teu sexo. Às vezes espreito o teu corpo despido, relaxado, sob a chuva quente de um duche matinal. Entro à socapa e mesmo vestido abraço-te de surpresa, pendurando-me no teu pescoço e deixando a minha língua beber a água que te escorre nas orelhas, no pescoço, pelas costas arrepiadas ao contacto do meu corpo com toda a roupa molhada. Assim molhada, a roupa molda-se, deixando-te adivinhar os meus desejos. Encosto-te e percorro-te com os olhos. Levantando-te os mamilos com carícias adocicadas por saliva e penetro-te molhando-te por dentro, em arremessos de orgasmos longos e demorados. Outras vezes entro pelos teus sonhos, sem licença deixo os meus espreitares em liberdade, pego nos teus dedos e saboreio-os um a um, molhando-os em excitações crescentes. Provoco-te, abuso de ti, adormecida, deixo os teus dedos húmidos em brincadeiras e só te abandono quando dentro de ti eles te deixam a sonhar que cheguei para te levar comigo.