Costuma ser assim. Doce e sem pudores entras e distribuis sorrisos cúmplices que nos despem, tentadores. Espalhas beijos pelo corpo dela e os teus dedos vão contando caracóis loiros. Beijas-lhe demoradamente a face, deixando esquecida, por segundos repetidamente ousados, a língua a percorrer as linhas dos lábios dela. Privilegiadamente, participo, nas vossas aventuras. Deixo-me perder nos vossos corpos enroscados e quentes que despreocupadamente de cobrem um ao outro. Gosto de ver as tonalidades de pele, diferentes, com brilhos diferentes, percorridas por mãos diferentes, que sabem tão bem tocar. De vez em quando, as minhas juntam-se às vossas e vão navegando por mares suados, encontrando-se nas arestas mais recônditas dos vossos corpos enlevados, carregados de ondas rebelde. É bom ver os teus seios em beijinhos pequeninos colados aos seios dela. Gosto quando eles se lembram de mim e se oferecem radiosos na minha boca sedenta. Costuma ser assim, descomplexadamente vocês se presenteiam aos meus olhos e deixam-me a escorrer de prazeres. Descobrem-se de cada vez, como se fosse a primeira. Sorriem, brilhantes nos olhos, afagando seios que cabem em mãos gulosas e preparam os caminhos para a performance final. Costuma ser assim, os vossos dedos perfeitos, fazem sorrir vossos lábios. Todos se conhecem. Os dedos teus nos lábios dela, e nos teus, e nos dela, saltitando, dedilhando gemidos em duetos escaldantes. Os dedos dela nos lábios teus, e nos dela, e nos teus, descobrindo, coleccionando contornos em memórias visuais – minhas, tuas, dela – até nos deixarmos perder no descontrolo dos corpos. Depois, costuma ser assim, trocamos beijos molhados com sabores dos vossos dedos e adormecemos os três, vocês nuas, abraçadas, e eu com alma encantada de vos ter assim para mim. Costuma ser assim, quando entras e ficas por cá por uns dias...
8.10.10
19.9.10
dedos-boca-boca-dedos sexo
Era assim, vinhas e perdias-te comigo. Descobrias o teu corpo em passagens pelo meu e acordavas aos bocadinhos a minha pele adormecida. Passávamos horas assim, em prazeres entornados pela cama, pela casa, pelo chão. Dedos-boca-boca-dedos sexo. Gostava de te percorrer devagar até os teus gritos de estenderem pelo quarto. Dedos-boca-boca-dedos sexo. Desfolhava-te em pétalas de carícias, absorvendo perfumes que me davas. Tocava-te deliciado, descobrindo cada cm dos teus lábios. Separava-os para o beijar, descobrindo o teu clítoris sorrindo para mim, húmido, excitado, dilatado de prazeres. Dedos-boca-boca-dedos sexo. Era assim, como se cada uma das vezes fosse a última. Como se a morte ou outra sorte, nos espreitasse pela janela e que, por vingança dos prazeres que tínhamos, nos esperasse na primeira esquina duma vida que queríamos longa com dedos-boca-boca-dedos sexo. Eras a menina-mulher que me vinha aconchegar o corpo, a alma e deixavas os meus olhos a brilhar. Tinhas um segredo lindo que me contaste nua com singeleza de palavras e gestos de mel. Guardávamos o teu segredo, em segredo, e com toques subtis prolongava-o, deixava-o escondido, incólume, intacto, respeitosamente guardado para o dia que o entendesses deixar morrer. Para aquele dia que entendesses entregar-te, mulher, talvez com maior prazer do que aquele que com dedos-boca-boca-dedos sexo, íamos partilhando pela cama, pela casa, pelo chão.
4.9.10
de surpresa!
Apetecia-me que aparecesses como de costume: de surpresa! Que trouxesses o teu perfume que cheiro de cor com todos os meus sentidos, o teu sorriso competindo com a luz do quarto, as tuas mãos que me enchem de gemidos… ahhh e a tua boca… sabes a tua boca deixa-me perdido. A tua boca tem desenhos de mulher nua, sabores de frutos vermelhos e desejos que te escorrem na saliva que eu provo. Os beijos da tua boca são eternos. Existem ainda em mim desde ontem, quando apareceste, como de costume: de surpresa! A tua boca entretém-se em mim, em brincadeiras prolongadas que me arrepiam. Lembro-me das histórias que ela conta, com a língua, ao meu ouvido. Lembro-me dos lábios da tua boca procurando os segredos do meu corpo e encontrando perdições minhas, de surpresa! Fecho os olhos, e deixo-te livre, deixando-me rastos e rastos e rastos de saliva morna na pele. Tento adivinhar os teus caminhos, tento influenciar os teus destinos, com a minha mão dada na tua. Aperto os teus dedos com força, sinalizando desejos que entendes. Intercalas beijos, dedos e língua, em mistura explosiva que detona os meus sentidos. Saboreias-me, de surpresa em surpresa e ficas por ali, em tangos dançados onde a tua língua se abraça no meu sexo. Como de costume, de surpresa!
15.8.10
abro a janela
Quando te quero ter, abro a janela e deixo que a brisa, agora com cheiros de Verão, se instale no meu quarto. Entra, e traz-te nos braços. Ajuda-te a despir dos calores que te apoquentam, e sopra-te no cabelo, brincando com os caracóis que se desfazem nos seus próprios labirintos. Quando te quero ter, a brisa adivinha e vai ligeira buscar-te. Hoje assim foi. Quando chegou, deitou-te no chão, suada, e pôs-te a sorrir para mim. Notei-te a pele queimada, molhada, desenhando em suor o teu corpo no soalho. Percebi o teu perfume a violetas e as mãos ansiosas por tocar. Vi-te os lábios com sabores e os pés lindos, atiçando meus sentidos. Quando te quero ter, é assim, abro a janela, tu vens devagarinho, e no chão, com a madeira da cor da tua pele queimada, eu te possuo. Percorro-te os dedos um a um, com a língua. Todos. Vinte. Conto-os com os suspiros que dás e te provo, completa, com lambidelas, apanhando o sal molhado que trazes no teu corpo. Sal de pele, sal de mar, sal de sexo que eu bebo em prolongados tempos de Verão, Quando o sol e a lua co-habitam em noites sem escurecer. Cubro-te de beijos. Cubro-te de dedos. Cubro-te de amor feito em suores que se misturam. Apanho-te saliva, com a minha na tua boca, escorrego por ti, em ti, e colho os orgasmos que me ofereces em catadupa. Guardo-os com os gemidos que libertas e enfeito-os com os sorrisos que me atiras dos teus olhos. Fico assim em contemplares sem fim, sentindo o teu sexo respirando em mim, brincando com ele, desenhando de olhos fechados, de cor, teus lábios que tanto gosto. Deixo-te assim a morrer de prazeres diversos, deixo-te assim sem forças, deixo-te assim em água de sexo e boca que inundam o soalho, cor de pele morena, que trazes de tão longe. Quando te quero ter, quando te quero ver, quando te quero beber, abro simplesmente a janela e deixo a brisa aparecer…
18.6.10
sete céus
6.6.10
segredos
8.5.10
beijos
25.3.10
corpos
6.3.10
ferro-te
16.2.10
“carnevale”
6.2.10
Lilith
Naquela manhã, no seu passeio matinal, Lilith visitou mais uma vez os pisadores de barro. Homens de músculos fortes, trabalhados por tarefas duras, longas e exigentes. Ali, o cheiro do barro misturado com a palha, destacava o odor dos suores corridos. Para a senhora do palácio, aqueles cheiros excitavam-na e constituíam factor de escolha. Mais uma vez isso aconteceu. O homem chegado na noite anterior era o alvo. Bom trabalhador, pouco falador e de sinal na testa, que ele fazia tentar passar como sendo de nascença. A túnica esfarrapada e suja, barrenta, colava-se no corpo suado, e o cheiro, como dardo, alvejava poros abertos da pele da senhora sedenta e insaciável. Escolha feita, ele, o pisador viajante dos tempos futuros e passados que ninguém conhecia.
Chamado ao palácio, logo foi recebido pelas escravas, conhecedoras das suas funções e direitos. As provadoras oficiais do reino. “ Conduzido por elas a um quarto separado, … foi despido e logo lavado dos pés a cabeça com água tépida. O contacto insistente e minucioso das mãos das mulheres provocou-lhe uma erecção que não pôde reprimir… elas riram e, em resposta redobraram de atenções para com o órgão erecto, a que, entre novas risadas, chamavam flauta muda, o qual havia saltado nas suas mãos com a elasticidade de uma cobra. O resultado, vistas as circunstancias, era mais do que previsível, o homem ejaculou de repente, em jorros sucessivos que, ajoelhadas como estavam, as escravas receberam na cara e na boca”. (in Caim de José Saramago)
Esta recepção deixou-o amedrontado e receoso das luxúrias vindouras. Quando entrou, encontrou Lilith nua, deitada em cetins que lhe realçavam o sorriso de serpente do paraíso. Ele sabia para o que ia. Na cidade, todos falavam dos apetites grandiosos da senhora, do seu corpo belo de princesa encantada, chamada de bruxa pelas invejas das mulheres que ouviam os murmúrios dos maridos adormecidos, sussurrando o nome da senhora, noites a fio. Com um sorriso, Lilith ordenou o início das actividades. Deixou um seio a descoberto, e as pernas entreabertas numa provocação experimentada. Ele no auge da sua inexperiência, deixou-se guiar pelo instinto acordado dentro de si e tratou daquele corpo tão bem cuidado com a experiência adquirida pelos músculos durante os trabalhos duros e violentos a que estava habituado. Uma violência doce fazia Lilith estremecer. Gemia rolava em cetins que ferviam agora com toda a intensidade das penetrações fortes, fundas, longas. As unhas cravavam-se em músculos suados, com restos de cheiros de barros pisados por marchas cadenciadas, que agora Lilith sentia dentro dela. Mordia-o ferozmente, como fera enraivecida. Marcava-lhe o corpo com linhas vermelhas e sulcos de dentes afiados. Os gritos de prazer e dor misturavam-se, transpiravam, ecoavam em todas as paredes do palácio, e procuravam as risadas invejosas das escravas que, como a sua senhora, não contiveram os sinais húmidos que em escorridos as enchiam de brilho nos olhos.