8.10.10

costuma ser assim


Costuma ser assim. Doce e sem pudores entras e distribuis sorrisos cúmplices que nos despem, tentadores. Espalhas beijos pelo corpo dela e os teus dedos vão contando caracóis loiros. Beijas-lhe demoradamente a face, deixando esquecida, por segundos repetidamente ousados, a língua a percorrer as linhas dos lábios dela. Privilegiadamente, participo, nas vossas aventuras. Deixo-me perder nos vossos corpos enroscados e quentes que despreocupadamente de cobrem um ao outro. Gosto de ver as tonalidades de pele, diferentes, com brilhos diferentes, percorridas por mãos diferentes, que sabem tão bem tocar. De vez em quando, as minhas juntam-se às vossas e vão navegando por mares suados, encontrando-se nas arestas mais recônditas dos vossos corpos enlevados, carregados de ondas rebelde. É bom ver os teus seios em beijinhos pequeninos colados aos seios dela. Gosto quando eles se lembram de mim e se oferecem radiosos na minha boca sedenta. Costuma ser assim, descomplexadamente vocês se presenteiam aos meus olhos e deixam-me a escorrer de prazeres. Descobrem-se de cada vez, como se fosse a primeira. Sorriem, brilhantes nos olhos, afagando seios que cabem em mãos gulosas e preparam os caminhos para a performance final. Costuma ser assim, os vossos dedos perfeitos, fazem sorrir vossos lábios. Todos se conhecem. Os dedos teus nos lábios dela, e nos teus, e nos dela, saltitando, dedilhando gemidos em duetos escaldantes. Os dedos dela nos lábios teus, e nos dela, e nos teus, descobrindo, coleccionando contornos em memórias visuais – minhas, tuas, dela – até nos deixarmos perder no descontrolo dos corpos. Depois, costuma ser assim, trocamos beijos molhados com sabores dos vossos dedos e adormecemos os três, vocês nuas, abraçadas, e eu com alma encantada de vos ter assim para mim. Costuma ser assim, quando entras e ficas por cá por uns dias...

19.9.10

dedos-boca-boca-dedos sexo


Era assim, vinhas e perdias-te comigo. Descobrias o teu corpo em passagens pelo meu e acordavas aos bocadinhos a minha pele adormecida. Passávamos horas assim, em prazeres entornados pela cama, pela casa, pelo chão. Dedos-boca-boca-dedos sexo. Gostava de te percorrer devagar até os teus gritos de estenderem pelo quarto. Dedos-boca-boca-dedos sexo. Desfolhava-te em pétalas de carícias, absorvendo perfumes que me davas. Tocava-te deliciado, descobrindo cada cm dos teus lábios. Separava-os para o beijar, descobrindo o teu clítoris sorrindo para mim, húmido, excitado, dilatado de prazeres. Dedos-boca-boca-dedos sexo. Era assim, como se cada uma das vezes fosse a última. Como se a morte ou outra sorte, nos espreitasse pela janela e que, por vingança dos prazeres que tínhamos, nos esperasse na primeira esquina duma vida que queríamos longa com dedos-boca-boca-dedos sexo. Eras a menina-mulher que me vinha aconchegar o corpo, a alma e deixavas os meus olhos a brilhar. Tinhas um segredo lindo que me contaste nua com singeleza de palavras e gestos de mel. Guardávamos o teu segredo, em segredo, e com toques subtis prolongava-o, deixava-o escondido, incólume, intacto, respeitosamente guardado para o dia que o entendesses deixar morrer. Para aquele dia que entendesses entregar-te, mulher, talvez com maior prazer do que aquele que com dedos-boca-boca-dedos sexo, íamos partilhando pela cama, pela casa, pelo chão.

4.9.10

de surpresa!


Apetecia-me que aparecesses como de costume: de surpresa! Que trouxesses o teu perfume que cheiro de cor com todos os meus sentidos, o teu sorriso competindo com a luz do quarto, as tuas mãos que me enchem de gemidos… ahhh e a tua boca… sabes a tua boca deixa-me perdido. A tua boca tem desenhos de mulher nua, sabores de frutos vermelhos e desejos que te escorrem na saliva que eu provo. Os beijos da tua boca são eternos. Existem ainda em mim desde ontem, quando apareceste, como de costume: de surpresa! A tua boca entretém-se em mim, em brincadeiras prolongadas que me arrepiam. Lembro-me das histórias que ela conta, com a língua, ao meu ouvido. Lembro-me dos lábios da tua boca procurando os segredos do meu corpo e encontrando perdições minhas, de surpresa! Fecho os olhos, e deixo-te livre, deixando-me rastos e rastos e rastos de saliva morna na pele. Tento adivinhar os teus caminhos, tento influenciar os teus destinos, com a minha mão dada na tua. Aperto os teus dedos com força, sinalizando desejos que entendes. Intercalas beijos, dedos e língua, em mistura explosiva que detona os meus sentidos. Saboreias-me, de surpresa em surpresa e ficas por ali, em tangos dançados onde a tua língua se abraça no meu sexo. Como de costume, de surpresa!

15.8.10

abro a janela

Quando te quero ter, abro a janela e deixo que a brisa, agora com cheiros de Verão, se instale no meu quarto. Entra, e traz-te nos braços. Ajuda-te a despir dos calores que te apoquentam, e sopra-te no cabelo, brincando com os caracóis que se desfazem nos seus próprios labirintos. Quando te quero ter, a brisa adivinha e vai ligeira buscar-te. Hoje assim foi. Quando chegou, deitou-te no chão, suada, e pôs-te a sorrir para mim. Notei-te a pele queimada, molhada, desenhando em suor o teu corpo no soalho. Percebi o teu perfume a violetas e as mãos ansiosas por tocar. Vi-te os lábios com sabores e os pés lindos, atiçando meus sentidos. Quando te quero ter, é assim, abro a janela, tu vens devagarinho, e no chão, com a madeira da cor da tua pele queimada, eu te possuo. Percorro-te os dedos um a um, com a língua. Todos. Vinte. Conto-os com os suspiros que dás e te provo, completa, com lambidelas, apanhando o sal molhado que trazes no teu corpo. Sal de pele, sal de mar, sal de sexo que eu bebo em prolongados tempos de Verão, Quando o sol e a lua co-habitam em noites sem escurecer. Cubro-te de beijos. Cubro-te de dedos. Cubro-te de amor feito em suores que se misturam. Apanho-te saliva, com a minha na tua boca, escorrego por ti, em ti, e colho os orgasmos que me ofereces em catadupa. Guardo-os com os gemidos que libertas e enfeito-os com os sorrisos que me atiras dos teus olhos. Fico assim em contemplares sem fim, sentindo o teu sexo respirando em mim, brincando com ele, desenhando de olhos fechados, de cor, teus lábios que tanto gosto. Deixo-te assim a morrer de prazeres diversos, deixo-te assim sem forças, deixo-te assim em água de sexo e boca que inundam o soalho, cor de pele morena, que trazes de tão longe. Quando te quero ter, quando te quero ver, quando te quero beber, abro simplesmente a janela e deixo a brisa aparecer…

18.6.10

sete céus


Abriram as portas dos sete céus onde tu moras a espaços. Espreitei para te ver e com o desejo de te ter, fui entrando devagar. Com sete vestes ligeiras, tu mulher me recebeste e com beijos adocicados tu de leve me enfeitaste. Os sete céus onde moras, têm a luz dos teus olhos, cujo brilho me ficou, cintilando nos sentidos. Nos sete céus te deitaste convidando-me a remar pelas ondas do teu corpo que ali se ficou como em mar. Salguei-me na tua pele ao saborear o teu mel que encandescentemente me deste, nos lábios para provar. Fomos perdendo marés, ganhando ondas de amor, remando os corpos perdidos com golpes de vento forte. Fomos contando as estrelas que povoam sete céus enquanto te abrigas das chuvas que dos meus desejos caem. Acariciei-te os seios que ao ouvido me falam em prazeres do paraíso. Tentaram-me com um sorriso e ordenaram que me mexesse, que prolongasse carícias por debaixo das sete vestes. Assim fiz, e eram sete, como os céus que nos espiam. Eram sete, eu as contei, como os céus que nos inspiram. Foram sete os tempos gastos em brincadeiras de sexo. Em gestos acidentados com propósitos contidos. As bocas, que eram duas, encheram-se de muitos beijos que desceram devagar pelos corpos já despidos. As bocas que eram duas, encheram-se de coisas boas prometendo mais visitas ao coração dos desejos. Depois os sete céus disseram já com o luar a findar, que o tempo se esgotara, que se queriam deitar. Pediram que apagasse, a luz do nosso amar e adormecemos cansados, abraçados, a sonhar. Debaixo de sete céus que se abriram para entrar, senti por inteiro o teu corpo e sabores do teu beijar.

6.6.10

segredos


Chegaste para contar segredos. Chegaste meio a medo, meio em ousadias de corpo em desejo e com um sorriso nas palavras que dizias. Soltas, inconclusivas, ligeiramente nervosas, como os dedos que se inquietavam nas tuas mãos esbeltas e deixavam rastos ansiosos nos movimentos que desenhavam no ar. Foste espalhando pelo quarto, conversas de passar tempo e ao dar-te um beijo nos lábios, senti-o subir aos teus olhos que brilharam como estrelas a fingir. Fui-te chovendo beijos na face, recebendo em troca os teus lábios molhados que se colavam aos meus. Percorri as linhas do teu corpo sobe o tecido que te cobria a pele. Procurei teus segredos, escondidos nos dobrares das esquinas dos teus braços, nos intervalos dos teus dedos, nos labirintos dos teus cabelos que teimavam em nos incomodar, aparecendo pousado em fios, entre as bocas que meigamente se comiam. Fui-te despindo aos pedaços, descobrindo os teus sinais, deixando a luz escassa do quarto tremelicar-te na pele. Foi ela que primeiro te beijou os seios, e tu deixaste. Foi ela que primeiro te lambeu as partes que tu deixavas, e, em segredos, murmuravas os prazeres primeiros que te invadiam como piratas em abordagens de mar alto. Segui-a, em mornos beijos de língua que te deixavam gata rebelde e em mim, marcas de unhas, em desenhos emaranhados. Perdias-te aos poucos e mordias numa inconsciência drogada pela excitação que te inundava por dentro. Semi-nua, foste-te entregando em abraços, beijos e segredos. Foste-te deixando conquistar em rendições tão gostosas. foste-te deixando escorrer por entre horas que derretemos em lençóis agitados pelos corpos com movimentos ondulantes. Deixaste-te assim morrer em orgasmos não despidos, por entre segredos que me disseste ao ouvido.

8.5.10

beijos


Apeteciam-me os teus beijos. Daqueles sem tempo a contar. Longos, sem nunca deixar de tocar. Daqueles em que as línguas passeiam sem pressas, em abraços, e os lábios como janelas abrem-se em frestas gostosas, deixando elas entrar. Apetecia-me sentir a pontinha da tua língua dançando em pontas na minha. Apetecia-me contar os teus passos na sala da minha boca e os toques dos teus dedos acompanhando em deslizes, o ritmo da nossa dança. Apetecia-me prender-te a língua, sugá-la com muitas carícias, torturá-la com doçura, e depois, em “slow motion”, libertá-la sem castigo, esperando o retorno, para um bailado sentido. Gostava de provar a tua saliva, transportá-la ao coração e com os olhos bem fechados fazia noite o encontro, para sentir por inteiro, o sabor tão cobiçado dos beijos que tens para dar. Depois com muito jeito pedia-te beijos molhados, ensinando-te o caminho há tanto tempo pensado. Pedia-te que descobrisses com dedos da tua mão, a minha já esquecida, de ter por um só instante, uma terna companhia. Gostava que tu viesses cheia de vontade de beijos. Que voltasses delicada, cheia de ideias loucas, de surpresas, excitada, com o corpo em primavera, cheio de prazeres alindados e orgasmos pr’a colher. Apetecia-me sonhar, embalado por teus beijos. Ter-te, lamber-te, beber-te, derreter-te com afagos e dizer-te ao ouvido, que tenho saudades tuas, vontades adormecidas e desejo dos teus beijos.

25.3.10

corpos


Entrei para te ver pintar. A bata com restos de branco, mesclava o teu corpo e pousava sobre a tua pele nua. Estava calor, e os primeiros botões desapertados libertavam os desejos de te espreitar. Descalça, ias bailando em passos curtos ao redor da tela, medindo, aprumando, pincelando como quem acarinha pele sedosa de um corpo em desalinho. Prestando atenção a ti, perdia o objecto da tua atenção. Um corpo quase estático de mulher, estava posto numa mesa. A cerca de cinco metros, tantos quantos os sentidos que disponibilizavas por ali. Que libertavas num atelier enfeitado por corpos pintados em papéis. Os corpos não se cansavam das posições quase acrobáticas com que estavam pendurados, em papéis, nas paredes nuas que seguiam atentamente o trabalho que fazias. Paredes nuas, vestidas de corpos envergonhados em reservadas posições que encobriam as partes que todos queriam ver. Corpos provocantes, que se expunham em gestos parados interessantes e convidativos. Seios grandes tocados por dedos bem cuidados. Sexos de lábios fartos que dão vontade de beijar. Corpos torneados, coxas cobiçadas, braços com vontades de abraçar. Respirava-se por ali um perfume que nos excita, só de pensar. Desenho também cada momento, cada quadro, fechando olhos e imaginando-te a pintar: a corrigir posições, a derramar sensualidades para poder retratar, a tocar nos corpos que chegam para posar, a beijar lábios para sentir o escorrer dos prazeres e depois os representar. Fidedignamente, em realidade tridimensional que façam o observador parar, regressar ao tempo em que tu estavas por ali a pintar, e depois, sonhar. Continuavas concentrada e espalhavas movimentos sensuais, no teu modelo. Ajeitavas o corpo, tocava-lhe os seios, realçavas os mamilos com dois dedos e voltavas ao cavalete para os poder esboçar. Abrias-lhe as coxas com um sorriso que saía dos teus lábios e se fundia nos dela, entre pernas, como um beijo libertado sobre tela por pintar. Deixavas-te arrebatar. Deixavas escorrências veladas no teu doce caminhar e brincavas com o teu corpo em bailados de encantar. Despias-te, soltando botões e cores. Inundavas o modelo de vontades, de arrepios, de bocados de loucura difíceis de se curar. Esperava pelo último movimento. Pela última pincelada. Pelo corpo da pintora que numa pintura final se possa fundir no dela, em abraço arrebatado.

6.3.10

ferro-te


Ferro-te com beijos, porque és doce e apetece-me saciar os meus desejos de guloseimas. Guloso de ti, dos teus seios, da tua pele, do teu açúcar que derrete em pontos de caramelo e encontro no teu corpo. Lambo, dissolvendo o teu sabor lentamente na minha boca, em mistura de saliva quente que deixo cair em fio no teu sexo aparado. Ofereço-te o meu, que envergonhado, cresce nas tuas mãos, meigas, suaves, deslizantes como maré cheia que se enrola em areia fina, cheia de beijinhos do mar. Os teus dedos são colecções de prazeres plantados devagar. estremecem os meus sentidos, arrepiam os meus olhos que gostam tanto de te observar, de te ver a passear, no meu corpo feito caminhos só teus, para poderes explorar. Ferro-te, devagarinho, os mamilos acordados pela língua a transbordar, de carinho, de sentidos que lhes faço, ao percorrer docemente contigo a lhes tocar. Danço em cima de ti. Ondeio em marés vivas, enchendo a minha boca com os teus lábios molhados. Ferro-te, recolhendo os sorrisos que eles têm para me dar. Sinto-te tão gulosa, enchendo a boca ansiosa, de loucura, de quentura, da minha vontade juntada à espera para te dar. Ferro-te com os dedos, aperto-te contra mim. Ferro-te com as pernas, entrando fundo, em ti. Ferro-te com vontade, com o corpo, como o vento morde o mar, impelindo-o contra rochas, duras, hirtas, valorosas, que em grande excitação recebem espumas espessas que escorrem em suores salgados daqueles doces lutares. Ferro-te quando te sinto escorrer entre gemido abafado da tua boca plena de espuma do meu ondular. Ferro-te com beijos, porque és doce, e não me apetece acabar…

16.2.10

“carnevale”


Stefania vivia em sonhos meus. Vivia em Veneza também. Morena, olhos verdes e personalidade construída em histórias de sedução. Stefania era também “carnevale” prometido, de Veneza… Solene, erótico, máscaras, vestidos longos e folhos, brilhos, dourados, brancos sedutores… Brancos em máscaras com lábios vermelhos desenhados, e linhas negras que demarcam os olhos rasgando-os em provocação para nós. Depois, as plumas em enfeites de cabeças e tecidos que nos tocam quando os vemos. Sedas, linhos, rendas, que cheiram. Perfumes que experimentamos com os dedos e sentimos na excitação da alma e no bater acelerado do coração. Stefania caminhava em passos de princesa, com ruídos de tecidos que acompanham em imperceptíveis aplausos. A máscara branca cobria-lhe a face, mas duas pintas douradas simulando sinais preciosos, desenhados em gota sob os olhos, deixavam um contraste triste nos olhos realçados com linhas grossas e negras. Recebeu-me assim em “carnevale”. Algumas pérolas distribuídas por tecidos que lhe cobriam a cabeça, enfiadas em arames finos e dourados, lembram gotas de orvalho em movimentos de chuva miudinha. Imagino o corpo de Stefania, sob cetins de muitos verdes em longos deleites e folhos. Cornucópias douradas espalham-se em rodopio no vestido, deixando à roda meus sentidos. Num carrossel de desejos, senti a sua mão coberta por terno rendilhado tocar-me a face, e ouvi o meu nome sussurrado por detrás da máscara, em desejo. Alinhei o meu passo pelo dela e caminhei assim desejando-a. Um leque em brisa e uma rosa vermelha eram de Stefania, pertenciam à sua beleza como acessórios do corpo que queria, naquele “carnevale”. Queria e tive-a em quarto de cama com docel, onde Stefania me deitou. Assim estendido, com olhares filtrados por “toule”, vi-a em lento despir com máscara sem tirar. Olhos verdes rasgados por desenhos traçados com linhas negras e duas lágrimas douradas que lhe decoravam em toque triste, a face que eu sabia bela. O rendilhado negro das luvas prolongava-se por meias e lingerie. Mesma textura, mesmo cheiro, mesmo desenho que excita. Mesma cor nos cabelos agora soltos, perfumados, longos, cobrindo as costas morenas, em “carnevale”. Cornucópias douradas tatuadas em ombros e tornozelos que me surpreendem em rodopio, tomam vida quando caminhas para mim. Mascarada, agarras o meu corpo e prendes os meus sentidos. Todos os cinco, cuidadamente acordados por ti. O paladar dos teus seios, o perfume dos cabelos, o deslizar da tua pele untada de óleo de amêndoa, os teus olhos brilhando em verde e a tua voz gemendo em prazeres por detrás da máscara que não tiras. E assim, em “carnevale”, possuímo-nos em cortejo demorado onde os figurantes fomos nós. Espalhamos confetis em chuvas de orgasmos e atiramos serpentinas de desejos consumados, que se juntam em cornucópias à mascara que descansa, libertando o brilho verde dos teus olhos.

6.2.10

Lilith


Lilith era a senhora do palácio. Fama de encantadora de homens, mulher insaciável, com vontades, desejadas por todos aqueles que a viam passar, em caminhares altivos e colo semi-descoberto. Deixava sempre rastos de desejo no reino chamado de Nod. Lilith vivia rodeada de servas que a conheciam ao pormenor. Diria mesmo em todos os pormenores. Naqueles tempos, naqueles onde os anos não se contavam, aquelas mulheres passeavam-se nuas umas pelas outras, por entre incensos, frutas frescas e perfumes secretos de tamarindos acabados de colher. Lilith era bajulada, tocada, beijada pelas escravas em noites de luar dourado reflectido em adornos de pulsos e tornozelos, de corpos vestidos em transparências. O vinho corria-lhes sempre em gargantas sedentas de sexo. Bebiam-no em partilhas de bocas e beijos prolongados. Perdiam-se em descobertas de corpos morenos, onde os dedos e línguas serviam de garimpeiros à descoberta de tesouros escondidos em lugares recônditos dos corpos de fogo-fátuo. Eram elas também que cuidavam e preparavam todos os homens escolhidos por Lilith. Provavam-nos, gozavam dos seus corpos, banhavam-se no sémen libertado em jogos colectivos a várias mãos, durante o banho purificador tomado antes da passagem ao aposento principal.
Naquela manhã, no seu passeio matinal, Lilith visitou mais uma vez os pisadores de barro. Homens de músculos fortes, trabalhados por tarefas duras, longas e exigentes. Ali, o cheiro do barro misturado com a palha, destacava o odor dos suores corridos. Para a senhora do palácio, aqueles cheiros excitavam-na e constituíam factor de escolha. Mais uma vez isso aconteceu. O homem chegado na noite anterior era o alvo. Bom trabalhador, pouco falador e de sinal na testa, que ele fazia tentar passar como sendo de nascença. A túnica esfarrapada e suja, barrenta, colava-se no corpo suado, e o cheiro, como dardo, alvejava poros abertos da pele da senhora sedenta e insaciável. Escolha feita, ele, o pisador viajante dos tempos futuros e passados que ninguém conhecia.
Chamado ao palácio, logo foi recebido pelas escravas, conhecedoras das suas funções e direitos. As provadoras oficiais do reino. Conduzido por elas a um quarto separado, … foi despido e logo lavado dos pés a cabeça com água tépida. O contacto insistente e minucioso das mãos das mulheres provocou-lhe uma erecção que não pôde reprimir… elas riram e, em resposta redobraram de atenções para com o órgão erecto, a que, entre novas risadas, chamavam flauta muda, o qual havia saltado nas suas mãos com a elasticidade de uma cobra. O resultado, vistas as circunstancias, era mais do que previsível, o homem ejaculou de repente, em jorros sucessivos que, ajoelhadas como estavam, as escravas receberam na cara e na boca”. (in Caim de José Saramago)
Esta recepção deixou-o amedrontado e receoso das luxúrias vindouras. Quando entrou, encontrou Lilith nua, deitada em cetins que lhe realçavam o sorriso de serpente do paraíso. Ele sabia para o que ia. Na cidade, todos falavam dos apetites grandiosos da senhora, do seu corpo belo de princesa encantada, chamada de bruxa pelas invejas das mulheres que ouviam os murmúrios dos maridos adormecidos, sussurrando o nome da senhora, noites a fio. Com um sorriso, Lilith ordenou o início das actividades. Deixou um seio a descoberto, e as pernas entreabertas numa provocação experimentada. Ele no auge da sua inexperiência, deixou-se guiar pelo instinto acordado dentro de si e tratou daquele corpo tão bem cuidado com a experiência adquirida pelos músculos durante os trabalhos duros e violentos a que estava habituado. Uma violência doce fazia Lilith estremecer. Gemia rolava em cetins que ferviam agora com toda a intensidade das penetrações fortes, fundas, longas. As unhas cravavam-se em músculos suados, com restos de cheiros de barros pisados por marchas cadenciadas, que agora Lilith sentia dentro dela. Mordia-o ferozmente, como fera enraivecida. Marcava-lhe o corpo com linhas vermelhas e sulcos de dentes afiados. Os gritos de prazer e dor misturavam-se, transpiravam, ecoavam em todas as paredes do palácio, e procuravam as risadas invejosas das escravas que, como a sua senhora, não contiveram os sinais húmidos que em escorridos as enchiam de brilho nos olhos.

30.1.10

avisaste...


Avisaste que havia uma surpresa. Que irias soltar a alma, enganar a consciência e deixar o corpo à solta. Corpo libertino, libertando perfumes de sexo. Corpo finalmente libertado de moralismos que se acumularam anos e anos nas gavetas duma educação que coleccionaste dentro de ti. Avisaste que chegavas e não chegavas. Que eras tu e não eras, apresentando uma dualidade de menina inocente e mulher sabida. Avisaste do teu cabelo “marron” que logo imaginei beijando os teus ombros nus, excitados pelas ondas que trazias num caminhar de tacões e botas altas, pretas, com cheiro a couro. Senti-o logo quando o soletraste pousadamente em lábios vermelhos, quase “marron”. Cheiro a couro, daquele que nos assalta os sentidos e nos tortura a alma, quando desenhado, colado até aos joelhos de umas pernas longas, que apetecem percorrer. Meias pretas, transparentes, marcadas por pétalas espalhadas em rendilhados de pele, provocando os sentidos que recuperavam ainda de um coma provocado pela tua voz em aviso antecipado. Ligas pretas que te agarravam. Corpete apertado, que te transporta num negro estonteante sustendo teus seios brancos de Inverno. Sim, tu avisaste que trazias tudo, carregavas fetiches que estavam arrumados, empoeirados, perfumados com cheiros intensos de vontades. Avisaste do chicote, tiras de couro, com cheiro a couro, complementando os fetiches que tinhas em ti para soltar. O cabo que usarias como brinquedo, satisfazendo-te, em viagens repetidas, cadenciadas, dentro de ti. Avisaste que o trazias, decorando o teu fetiche, compondo o negro das botas e com tiras enroladas em pulseira sensual. Avisaste que chegavas sem avisar e te sentarias no sofá de couro, em provocação para eu te ver. Pernas com botas e meias, tudo negro, pousadas nos braços do cadeirão que te acolhia envergonhado. Pernas lindas, afastadas, em prolongamento bi-direccional do sexo que te desejo. E eu ali olhando-te, transportado magicamente para os fetiches teus. Ouvindo-te gemer e sorrir, sorrir e gemer, enquanto as tiras desenroladas do chicote deslizavam, couro com couro, no sofá daquele quarto, em viagens repetidas, cadenciadas como as que transportavas, sorrindo, para dentro de ti. Tu avisaste

22.1.10

sentado nas tuas nádegas

Perco-me nas tuas sardas quando te encontro nua, deitada na minha cama. Conto-as com beijos às dezenas que espalho, começando nos teus ombros. O teu cabelo claro, enrola-se com doçura nas pintinhas de canela e estende-se quase até à cintura que encima um rabo perfeito, curvilíneo, que me enche de vontades. As palmas das minhas mãos, suam de desejos da tua pele e clamam por te tocar. Ouso pousá-las em ti, ouso deslizar nas descidas do teu corpo, contornando pintinhas de canela em costas que não paro de tocar. Arrisco subidas das tuas nádegas que, alpinista de prazeres, eu pretendo conquistar. Fechas os olhos e murmuras palavras doces que apanho para te massajar. Escorro mel em ti, detenho-me nas tuas coxas, sem pintinhas de canela, observo-as emaranhado em sentidos de prazer. Gosto de te beijar as covinhas dos joelhos, sem contares. Misturo-te cócegas com saliva, e tu sorris, estremecendo. Gosto de te beijar os pés, sentado nas tuas nádegas. Em ângulo recto de pernas, ofereces-me um de cada vez . Agarro-os a duas mãos fortes, e brinco com os teus dedos descobrindo um a um os pontos dos teus desejos, gemidos, murmurados, pedidos. As fuas palavras dengosas excitam-me, e partem para escritas belas que tatuam o meu corpo. Lambem os pontos dos meus desejos, enrolam-se no meu sexo pousado na linha cavada que te separa as pernas. Alinha-se numa erecção que cobiças, e também ele vai deslizando impelido pelas ondas que provocas. Maré brava, maré cheia, maré que nos leva, que nos traz em excitações de espuma onde queremos mergulhar. Sentado nas tuas nádegas, afasto-te as pernas levantadas em ângulo recto, vejo o teu sexo já molhado e liberto o meu da tortura de um adiamento. Sorris, com a liberdade quente que chega apressada aos teus lábios, sorris ao te sentires pontualmente banhada e abres-te para mim para receberes as ultimas gotas que te ofereço, sentado nas tuas nádegas.

15.1.10

voo quase vazio

Um encontro fortuito de olhares, uma troca de um sorriso, um avião quase vazio, fizeram-me conhecer Natasha. Natasha e Aliona viajavam num voo quase vazio, como eu. Vazio era o voo, vazio era o estado que me enchia a alma e me fazia a pele sedenta de um beijo. Natasha e Aliona entretinham-se com sorrisos quentes e dedos bonitos, entrelaçados. Dedos que se separavam de quando em vez para um carinho, um toque de cabelo, uma festa na face, um escorregar destemido debaixo de uma saia curta, que me provocava. Fila 25, assento A, era o lugar onde distraidamente me sentava, num voo quase vazio, lugar com vista para o sonho. Lugar que permitia, por um espaço estreito, entre bancos, ver Natasha, ver Aliona, lugares B e C, fila 24, sabendo que elas também me viam. Ali estavam aninhadas uma na outra, trocando desejos, enchendo vazios de um voo quase vazio, aquecendo os corpos, por fora e por dentro. Deitada sobre o colo de Natasha, Aliona deixava-se acender, por mãos que decididamente caminhavam sob a blusa com linhas de primavera. Mãos de fogo, mãos de mel que conhecendo caminhos, sabiam de cor seus destinos. Um respirar mais intenso, um passar de língua sob os lábios, sinalizam a chegada e anunciam dedos beliscando mamilos hirtos que sobressaem no tecido amarrotado, com linhas interrompidas de primavera. Mãos sábias e famintas contornam seios cheios, colhendo flores em molhos de arrepios. Sorriem, provocam, brincam com os meus sentidos, e em pequenos segundos suspensos em minutos infinitos, oferecem ao meu olhar, fragmentos dos seus corpos bem cuidados, brancos, de pele sedosa, ardentes (por certo) ao tocar. Num momento de mais ousadia, adivinhei os dedos esguios de Natasha afagando docemente a doce vulva de Aliona. Vi-as provar sabores escorrentes em dedos longos, entrelaçados, molhados, que partilhavam em fogosas danças de línguas salivantes. Por entre bancos, Natasha estende-me uma mão, sorrindo. Provo seus dedos, beijo-os um a um, e sinto nos lábios orgasmos como se fossem meus. Por entre bancos, naquele voo quase vazio, sorriem, provocam, brincam com meus sentidos, entregam-se uma à outra, entrelaçam-se e fazem-me aterrar com um épico estremecer, num aeroporto qualquer.

1.1.10

naquele Natal


Naquele Natal dei-te a minha vontade embrulhada em papel de sonho, brilhante, com um laço a condizer. Tinha imaginado tudo, tinha inventado brincadeiras, tinha sentido o cheiro quente do desejo que embrulhei lentamente em imagens tuas. Naquele Natal ofereci-te chocolate. Eram três: de leite, branco e negro. Naquele Natal ofereci-te calor para os derreteres e desejei fondue a dois, com frutas em pedacinhos e lingerie vermelha. Escolhemos beijos de ananás e morangos, e acendemos velas de baunilha no quarto. O chocolate branco foi o primeiro. O contraste com os morangos encheu sentidos e o perfume doce foi deixando rasto na tua pele. Provei-o com os dedos, excitando-te. Trocamos morangos pintados de chocolate, em bocas adoçadas e quentes. Aproximamos corpos e senti as tuas luvas rendilhadas de vermelho no meu peito. Os teus beijos escorriam pelo meu corpo deixando-me docemente perdido. Planeado para segundo, o chocolate de leite foi derretendo enquanto a tua língua ia brincando com os seios entretanto descobertos. Colocaste dois cubinhos de ananás sobre os mamilos que devorei gostosamente, saboreando uma acidez que atenuou os sentidos. Com o chocolate de leite já derretido, temperamos o ananás dando-lhe cor e sabor que espalhamos pelos corpos, em linhas quentes que nos excitavam. Já despida mas de saltos altos, nuns sapatos vermelhos que sobressaíam na alvura dos lençóis, encontrei um a um os pedaços de fruta vestidos de chocolate, pousados na tua pele despida de vermelho. Beijo a beijo, recolhi-os na minha boca. Dedo a dedo, percorri o labirinto de ananás que desenhaste para mim. Fui à procura do fim da estrada e encontrei a entrada do teu ser. Naquele Natal, entrei dentro de ti, usando o sexo mas chegando com a alma ao coração. Dentro de ti, saboreei chocolates que me brindaste com a tua língua sensual plena de beijos molhados. Dentro de ti, espalhamos o chocolate negro fervente que nos queimou mansamente a pele, colorindo-nos de cacau amargo que adoçamos com sexo de mel e cheiro a baunilha. Naquele Natal, sujamo-nos, lambemo-nos, sujamo-nos, lambemo-nos, propositadamente, longamente, em cumplicidades de sorrisos lindos, ao som de gargalhadas doces, ao ritmo de movimentos de corpos que deslizavam, com perfumes dos chocolates ferventes que dançavam em fondue, ao ver-te assim nua e exuberante. Dentro de ti, senti-te estremecer três vezes. Foram três orgasmos de chocolate, os que tiveste. Dentro de ti, espalhei a minha vontade embrulhada em papel de sonho e tu retribuíste com gemidos derretidos pelo calor dos nossos corpos. Dentro de ti, adormeci, esperando que tudo acontecesse naquele Natal que imaginei cheio de brincadeiras e cheiros quentes de desejos, espalhados pelo quarto.