27.9.09

tatuada

foto: Melqui Zago (www.olhares,com)

Naquele dia senti-te tatuada com beijos de fêmea em cio. Trazias nos lábios os beijos da mulher que te provou, deixando perfume de batom cereja doce. Senti na tua pele os dedos marcados por invisíveis sentidos de prazer. Vi os teus seios satisfeitos por dedos esguios de mulher, sábios no tocar, hábeis no excitar. Percorri os mesmos caminhos recolhendo saberes, captando sinais de pele encostada. Deslizei pelas tuas coxas húmidas de líquidos misturados, escorridos dos beijos cadenciados de sexos femininos em entrega total. Brinquei com os teus lábios ainda salientes de prazer, cheios de sorrisos e cócegas saborosas. Provei-os, lambendo-os em círculos de Saturno, como se fosses Vénus, a minha deusa. Trinquei-te levemente empurrando-te contra mim, forçando os movimentos de dança que as duas ensaiaram momentos antes. Era assim duas, três vezes, por semana… Encontravam-se em fugidas planeadas, naqueles arrumos do escritório, quando já quase toda a gente tinha saído. Ela despia-te dizendo sempre coisas lindas, e às escuras, tatuava-te com a língua, deixando rastos de saliva na tua pele sedosa. Agora, ali comigo, gemias outra vez, em prazeres lembrados e sentidos. Ia no encalço dos rastos dela, dos seus sabores a cereja doce, do perfume a sexo gotejado. Era uma dualidade que te/me completava, te/me preenchia, te/me enfeitiçava. Entregavas-te toda, aos dois, alternadamente em tatuagens de traço livre. Agora, ali comigo, a tua pele arrepiada, recebia as minhas mãos, os teus seios, a minha boca, o teu sexo, dedos vigorosos em penetrações profundas. Possuía-te, às escuras, e vinha-me em ti, tatuando-te de amor a pele macia pintada com beijos de fêmea em cio...

24.9.09

Piazzola

foto: Violeta Teixeira (http://www.olhares.com/)

A chegada atrasada ao concerto permitiu-me passar aconchegado, junto a ti. Cheirei o teu perfume que me pareceu de amêndoa doce, com traços de caramelo quente. Rocei ao de leve nas meias rendilhadas que faziam adivinhar uma pele deslizante ao tocar, e reparei nas botas com tacões finos, pretas, daquelas que acompanham bateres de coração ao caminhar. Tens uns olhos lindos, disse-te sem palavras, esboçando um sentar nervoso na cadeira vazia, providencialmente plantada junto a ti. A orquestra despejava belos sabores que nos envolviam atrevidamente. No intervalo de cada peça, encostavas o teu braço ao meu, e batias palmas suaves e sensuais, que partilhava com músicos. Sorrias, manifestando agrado por mais uma composição de Astor Piazzola, um tango que te fez despir nos meus olhos, revelando seios fartos, uns bicos lindos, centrados em círculos pequenos, cor e sabor caramelo…. Respirava ousadamente o ar dos teus lábios e assim te possuía em brisa quente. Percorria-te transparente, anotando os teus sinais no caderno dos sentidos, pautado, com margem em linha azul, cor de mar entornado nos teus olhos. Mais um aplauso, um tango sentido, um cruzar de brilhos no olhar. Esqueci-me da minha mão pousada no braço partilhado das nossas cadeiras de veludo. Deixei-a para ti, expondo a palma da mão e todas as linhas de futuro que uma cigana desenhou, em ladainhas gravadas em pistas de memória. Cinco linhas, quase paralelas, onde serenamente pousavam as notas de Piazzola, as notas de um “Vuelvo al Sur”, que, como eu, desejavam a pele da tua mão. Sabendo de cor este andamento, timidamente os teus dedos caminharam na minha mão, terminando entrelaçados e suados entre os meus. Puxaste-a para ti e ensinaste-me as estradas das tuas coxas, empurrando-a num movimento apressado contra o teu sexo desnudado e húmido. Toquei-te, em ritmo de “Milonga Sin Palabras” e tu, no último “encore”, escorreste em mim o teu licor de amêndoa doce… Saboreei-te e lembrei-me que estava ali para ouvir Piazzola.

19.9.09

teu, em, como fantasma


Hoje o teu fantasma apareceu-me. Despido excitante, queria fazer amor comigo… Queria pela última vez sentir a fluidez dos sentidos. Sentir os arrepiares das palavras que digo com sotaque. Palavras que sempre que escutavas te escorriam na pele, tocavam-te toda, lambiam-te com prazeres que te deixavam molhada, inundada de mar salpicado entre pernas. Hoje quiseste mais uma vez saborear-me, em teu fantasma. Pegar no meu sexo e em beijos sugados, absorveres cada gota preliminar que guardas na tua língua como uma última recordação de alma. Brincaste com os teus dedos leves, transparentes. Tocaste sinfonias de amor que pareciam sinos entoando cânticos de despedida. O meu pénis erecto como nunca, abandonou-se por completo em ti. Hoje pela última vez, em fantasma, contornaste-o com atenção redobrada para não mais o esquecer. Não podia tocar-te. Via-te, sentia-te, mas quando te queria abraçar, escapavas-te entre meus braços ficando o teu vento na minha pele extasiada… e sorrias pairando sobre mim… nua, com seios salientes baloiçando, tentando-me, lembrando-me as vezes que me perdi em ti. Depois, quando sossegado, pousavas novamente em mim, ondulavas no meu corpo, sentia-te outra vez, sentia a brisa do teu corpo com cheiro a maresia beijando-me por completo. Hoje, como fantasma, deixaste-te penetrar, leve, sem peso, sentada sobre mim. Senti o meu sexo apertado dentro de ti, naquelas brincadeiras que fazias, prendendo-mo, esganando-o no prazer deslizante do teu. Hoje, numa explosão de contornos indescritíveis vim-me em ti, com abundância, dissolvendo vagarosamente em esperma o teu corpo que em sopro esgotado repousa agora para sempre dentro do meu…

16.9.09

por detrás das pálpebras

foto: Virgínia Pinhão (www.olhares.com)

Dublin era o destino escolhido para sonhar. Comprei o sonho em site low-cost adequado. Imaginei-me a voar em céus multicolores de prazeres e beijos. Voei para o sonho sem qualquer engano na digitalização das opções e escolhi prioridade máxima. Queria sonhar bem depressa, não queria esperas longas, desnecessárias, violentas que me fizessem acordar mesmo antes de te abraçar. À hora agendada, fechei os olhos e conforme as instruções, escritas em várias línguas, desenhei por detrás das pálpebras nossos corpos desnudados, entrelaçados em entregas perfeitas, simples, excitantes. Toquei-te com os meus dedos de sonhar, fazendo arrepiar a tua púbis curtinha que ofegava na minha pele. Os teus lábios sensuais, preencheram os meus, em beijos vestidos de batom encarnado, que nunca te vi usar. Senti o mentol da tua língua, refrescando por inteiro a minha boca. Sabes, não sei se te disse escrevendo, que gosto de senti-la. Gosto de possui-la com beijos gostosos, sugando-a como criança gulosa em torno do seu doce preferido. Gosto de te abraçar, contigo de costas, enchendo as minhas mãos com teus seios de volúpia. Gosto quando me fazes encaixar em ti, quando o meu sexo fica cravado entre as tuas nádegas e o faço crescer em movimentos que acompanham os passeios dos meus dedos no teu corpo. Gosto de te beijar o pescoço com os restos de sabor a menta. Percorro-te as orelhas, mordisco-te e liberto as palavras que sempre te deixam inundada em torrentes quentes de prazer. Sei-as de cor, digo-as em paixão e sinto-as escorrendo em ti, em orvalhos provocantes do amanhecer dos sentidos. Mantenho os olhos bem fechados e sinto-me a sonhar dentro de ti num abraço suspenso, parado, quase irreal… Vejo-me, vendo-nos, como que se simultaneamente fosse possível possuir-te e ver-te possuída Vejo-te nua plena de orgasmos. Vejo-te em gemidos longos, não os ouço. Os movimentos dos teus lábios projectam os sons que imagino. Por detrás das pálpebras, os espasmos do teu corpo sacudindo o meu, deixam marcas de alma, para não mais acordar. Excito-me ao ver-te assim, excitada, numa entrega perfeita de corpos entrelaçados que à hora combinada eu acabei por sonhar. Dublin era o destino onde não cheguei a aterrar…

11.9.09

era a tua praia

foto: Quark (www.olhares.com)

Era a tua praia, conforme sempre me dizias. Namoravas com ela em dias de calor, mostrando-lhe o corpo, espreguiçando-te na areia quente, dando-o por inteiro em lânguidos movimentos, em entregas de rituais solares. Ela, agradecida, contornava com ondas desenhadas as tuas linhas curvilíneas, procurando beijar cada pedacinho da tua pele morena. E assim passavas horas infindáveis em amores entrelaçados. Ousavas mesmo em dias de gente escassa, mostrar os seios de mamilos hirtos, fazendo estremecer de prazer, grãos de areia, algas e conchas que te observavam estarrecidos. Por vezes, sentada, observando ondas de mar revolto tocavas-te ao ritmo dos beijos arrebatados da água em rochas apaixonadas. Conhecias bem a força daqueles beijos, a robustez daquela paixão, eras mar também, quando enamorada. Entregavas-te, e cheia de tesão, deixavas-te penetrar fundo, com doce violência, tal qual aquele oceano se rende às rochas fálicas espalhadas pelas margens da tua praia. Naquele amor salgado, a água partida em mil gotas chegava até ti, molhava-te em camarinhas brilhantes, escorrendo devagar pela tua pele acalorada e nua. Os dedos procuravam com frenesim o botão dos prazeres que expunhas ao teu amor. Provavas sabores, trocavas fluidos, deixavas escorrer saliva que misturada com gotas molhadas de sal, acariciavam um clítoris forte e saliente. Transformando-te em mar, ondulavas em orgasmos contínuos e docemente caías em espasmos de prazer, como espuma cansada de tanto (a)mar.

6.9.09

espumas em castelo

foto: Humberto Sousa (http://www.olhares.com/)

A sensação seria a de voar. De estarmos os dois entre nuvens que nos envolviam os corpos escondendo a nudez que adivinhávamos, tocando-nos. Pele com pele. Puro tacto. Às cegas. Como se uma escuridão branca nos tivesse colhido de surpresa, restando-nos o tacto como órgão visual, arrebatado. As tuas coxas eram exploradas docemente por pequenos jactos que saíam da banheira. Massagens invisíveis excitantes, que te deixavam arrepiada. Com inteligência liquida, procuravam atingir com uma precisão estranha, todos aqueles pontos que pouco tempo antes, foram percorridos pela minha língua sedenta de te enfeitiçar. Perdi. Agora, na banheira mágica, tinha concorrência. Uma espuma imaculada ia crescendo em teu redor, envolvendo-te em sensações ternas e fofas. Entrelaçando as minhas pernas nas tuas, vi-te de olhos bem fechados, gozando momentos ainda não sentidos, imaginados talvez, ou vistos por ai em filmes que nos fazem cobiçar. Escondidas entre espumas em castelo, as minhas mãos percorriam-te, procurando destinos tantas vezes visitados. Deslizavam, contornavam, desenhavam, saboreavam submersas as diferentes texturas que me oferecias. Gostei de sentir os lábios do teu sexo abertos, inundados… Empurrando-te para a superfície de água que ameaçava transbordar, segurei-te nas nádegas e lambi devagar a tua vagina linda. Gostei da surpresa. Gostei de sentir os teus pêlos curtos que, molhados, me enchiam de tesão. Os teus pés, como mergulhadores de tentáculos, passeavam-se pelo meu pénis em movimentos envolventes de excitação suprema. Assim preparado, não tardou que, saído das nuvens com cheiro a morango, o introduzisses na boca, num assalto aquático onde a minha resistência se ia dissolvendo aos poucos e poucos, por entre as pequenas ondas, reguladas ao sabor da nossa excitação. Foi bom, demorado, perfeito, o beijo com que engoliste o meu sexo. Cerrando os olhos, absorvi toda a energia de ti, Princesa. Foi bom, demorado, perfeito, quando entrando em ti, debaixo de água, senti-te estremecer sacudindo espumas de prazer que morriam lentamente junto a nós.