28.5.11

propositadamente...

Estendi o lençol de latex negro na cama e com um movimento propositadamente lento, fiz-te sentir vagarosamente na pele a sua textura fria e brilhante. De olhos fechados foste invadida por imagens que construías através das sensações que iam tomando conta de ti, em conquistas propositadamente lentas, cada vez mais reais, cada vez mais certas. Alvos concêntricos de prazer, vou visualizando, espalhados por teu corpo. Seios pequenos e rijos são doces destinos meus, e com a língua, em movimentos propositadamente lentos, vou deixando em ti, adivinhas que tentas decifrar. De olhos propositadamente fechados, refinas demoradamente os sentidos, descobres devagar cheiros de cera que não vês. São dez. Dez velas que não divisas, rodeando a alvura do teu corpo num contraste propositadamente destacado pelo negro que brilha ondulando em espumas de luz na cama onde te adoro. Escorridos de luz, ainda fervente, tocam-te ao de leve na pele, incendiando-te o sangue de desejos. Aos poucos adivinhas a história, e com beijos vou alimentando as páginas que folheias mentalmente, de olhos propositadamente fechados. Beijei-te com pingas de cera quente que te arrepiam a pele e te enfeitam com estrelas que morrem aos bocadinhos nos teus seios, em órbita do teu umbigo, pertinho do teu sexo que propositadamente se tinha alindado para as receber. Desististe de abrir os olhos e propositadamente deixaste-te derreter abraçada a mim. Assim não viste como ficaste linda, com asteriscos de cera iluminados pelos restos de luz que ainda resistiam no mar negro daquela noite.

5.5.11

Cerejas...


Apetece-me cerejas, porque estamos em Maio. E em Maio lembro-me de ti. Apetece-me cerejas, vermelhas, como os teus lábios, vermelhos, pintados em Maio para me acender. Doces, ao beijo, ao mordiscar, vermelhas, quentes, apanhadas, roubadas ao fim da tarde, quando o sol em fogo, vem nos nossos corpos entardecer. E comer, pegando pelo pé, passando a língua devagar e sentir a carne branca a abrir-se, com suores e sumo a escorrer-me na boca, como tu me escorres quando, como cereja, te encho do meu beijar. Ao entardecer, dispo-te dos vermelhos que te cobrem, os transparentes das roupas que me provocam, e encho-te de cerejas. Cerejas, vermelhos opacos que te enfeitam a pele branca em contrastes de desejo. Devoro docemente as cerejas que te cobrem, arrasto-as com dois dedos desenhando trajectos eróticos na tua pele e sustenho-me nos declives dos teus seios. Faço-as escorregar por eles e apanho-as na boca, sentindo todos os arrepios que te enchem de marés-altas e vontades de navegar pelo mar agitado do meu corpo. Gostas quando propositadamente baralho as cerejas com os teus mamilos endurecidos e provo-os à vez enquanto gemes. Como gosto dos teus gemidos! Excitam-me e fazem-me procurar os frutos pequenos que, antes de mim, chegaram ao teu sexo e adormeceram com os beijos que lhe deram. Vou, e acordo-as, às cerejas, fazendo-as bailar nos lábios que molhados recebem também os meus dedos. Uma a uma, como-as, às cerejas. Um a um, invado-te, com os dedos. Recolho sabores que provamos com beijos, com jeitos, com artes, com sexo. Os sabores mesclados que nos alvoroçam. Os sexos desejosos de se terem. Em exaustão, em excitação, em ondulação, até à explosão. Em Maio, é assim, por tradição. Roubo cerejas ao entardecer e saboreamo-las juntos, espalhadas por teu corpo. Cerejas, porque estamos em Maio