25.3.10

corpos


Entrei para te ver pintar. A bata com restos de branco, mesclava o teu corpo e pousava sobre a tua pele nua. Estava calor, e os primeiros botões desapertados libertavam os desejos de te espreitar. Descalça, ias bailando em passos curtos ao redor da tela, medindo, aprumando, pincelando como quem acarinha pele sedosa de um corpo em desalinho. Prestando atenção a ti, perdia o objecto da tua atenção. Um corpo quase estático de mulher, estava posto numa mesa. A cerca de cinco metros, tantos quantos os sentidos que disponibilizavas por ali. Que libertavas num atelier enfeitado por corpos pintados em papéis. Os corpos não se cansavam das posições quase acrobáticas com que estavam pendurados, em papéis, nas paredes nuas que seguiam atentamente o trabalho que fazias. Paredes nuas, vestidas de corpos envergonhados em reservadas posições que encobriam as partes que todos queriam ver. Corpos provocantes, que se expunham em gestos parados interessantes e convidativos. Seios grandes tocados por dedos bem cuidados. Sexos de lábios fartos que dão vontade de beijar. Corpos torneados, coxas cobiçadas, braços com vontades de abraçar. Respirava-se por ali um perfume que nos excita, só de pensar. Desenho também cada momento, cada quadro, fechando olhos e imaginando-te a pintar: a corrigir posições, a derramar sensualidades para poder retratar, a tocar nos corpos que chegam para posar, a beijar lábios para sentir o escorrer dos prazeres e depois os representar. Fidedignamente, em realidade tridimensional que façam o observador parar, regressar ao tempo em que tu estavas por ali a pintar, e depois, sonhar. Continuavas concentrada e espalhavas movimentos sensuais, no teu modelo. Ajeitavas o corpo, tocava-lhe os seios, realçavas os mamilos com dois dedos e voltavas ao cavalete para os poder esboçar. Abrias-lhe as coxas com um sorriso que saía dos teus lábios e se fundia nos dela, entre pernas, como um beijo libertado sobre tela por pintar. Deixavas-te arrebatar. Deixavas escorrências veladas no teu doce caminhar e brincavas com o teu corpo em bailados de encantar. Despias-te, soltando botões e cores. Inundavas o modelo de vontades, de arrepios, de bocados de loucura difíceis de se curar. Esperava pelo último movimento. Pela última pincelada. Pelo corpo da pintora que numa pintura final se possa fundir no dela, em abraço arrebatado.

5 comentários:

  1. Arrebatador, tal como os corpos que se fundem.

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  2. A distância entre a arte e a vida por vezes é grande, mas não foi manifestamente o caso. A qualidade da pintura ter-se-á ressentido ou antes pelo contrário?

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  3. Uma pintura de almas.
    Belos os corpos.

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  4. Anónimo29.4.10

    Lindo texto
    Forte, sensual, despertou em mim a vontade de sentir alguem por inteiro.
    Adorei!
    Beijos
    T I N I N

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  5. uma sensualidade ímpar...
    bj libertyo

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